quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Deus Te Abençoe!
Pela amizade que você me devota,
Por meus defeitos que você nem nota…
Por meus valores que você aumenta,
Por minha fé que você alimenta…
Deus Te Abençoe!
Por esta paz que nós nos transmitimos,
Por este pão de amor que repartimos…
Pelo silêncio que diz quase tudo,
Por este olhar que me reprova mudo…
Deus Te Abençoe!
Pela pureza dos seus sentimentos,
Pela presença em todos os momentos…
Por ser presente, mesmo quando ausente,
Por ser feliz quando me vê contente…
Deus Te Abençoe!
Por este olhar que diz "Amigo, vá em frente!"
Por ficar triste, quando estou tristonho,
Por rir comigo quando estou risonho…
Por repreender-me, quando estou errado,
Deus Te Abençoe!
Por meu segredo, sempre bem guardado…
Por seu segredo, que só eu conheço,
E por achar que apenas eu mereço…
Por me apontar pra DEUS a todo o instante,
Por esse amor fraterno tão constante…
Por tudo isso e muito mais eu digo
"DEUS TE ABENÇOE,
MEU QUERIDO AMIGO!"

Fênix Faustine

Procuram-se amigos

Ricardo Gondim

Quando eu era menino, mamãe me aconselhava a tomar cuidado com os meus amigos. Depois, quando cresci mais, papai repetiu o surrado provérbio: “Dize-me com quem andas e te direi quem és”. Passados vários anos e com tanta água sob pontes e viadutos, não consigo avaliar se consegui obedecê-los. Sinto, porém, que preciso achar novos amigos.
Cheguei à meia idade bem decepcionado com a palavra Amizade. Esfolei os joelhos nos desdéns, aprofundei as ranhuras da cara com decepções e perdi tufos de cabelo com traições. Mas mesmo assim, reluto; não posso tornar-me cético, sei que devo manter-me próximo de amigos verdadeiros - Isso não é fácil!

Faz pouco tempo, devido à internet, encontrei um colega (já não posso chamar-lhe de amigo) - estranho, eu o considerava um "irmãozão". Havíamos perdido o contato há alguns anos. Redigi e mandei-lhe uma mensagem cheia de afeto e saudade. Na verdade, eu estava carente, necessitado de vínculos leais. Tal como um doente que aperta a campainha da UTI, desesperado pelo socorro do médico, eu clamava por sua atenção. Arrazado, amarguei uma resposta horrível. Ele candidamente agradeceu a “carta eletrônica” e não hesitou em propor que, daquele dia em diante, compartilhássemos esboços de sermão. Quase chorei. A última coisa que eu precisava era um “esqueleto” de pregação.

Entretanto, mesmo amealhando decepções, insisto em garimpar amigos.
Quero ser amigo de quem valoriza a lealdade. Quando papai esteve preso, o estigma de subversivo grudou nele. Um dia, ele me contou com lágrimas nos olhos que vários ex-colegas da Aeronáutica desciam a calçada para não se verem obrigados a cumprimentá-lo. Guardo esse trauma e, sinceramente, não consigo lidar com amizades de conveniência.
Preciso acreditar em amizades que não se intimidam com censuras, que não retrocedem diante do perigo e que não abandonam na hora do apedrejamento. Amigos não desertam.
Quero ser amigo de quem eu não deva me proteger, mas que também não se sinta acuado e com medo de mim. Não creio em companheirismo lotado de suspeita. Grandes amigos são vulneráveis; conversam sem cautela; sentem-se livres para rasgar a alma e sabem que confidências e segredos nunca serão jogados no ventilador da indiscrição. Amigos preferem proteger os amigos a defender normas, estatutos e leis.

Quero ser amigo de quem não se melindra com facilidade. Eu me conheço, sei que piso em calos. Agrido com meus silêncios. Uso a introspecção para tecer comentários ácidos e impensados. Às vezes quanto mais tento, mais me mostro tosco. Vou precisar de amigos que tolerem as minhas heresias, hesitações e pecados. Dependo de que suportem o baque de minhas inadequações, e que sejam teimosos em me querer bem.
Quero ser amigo, não simples parceiro de vocação. Já preguei em igrejas em que o pastor, depois da programação, se despediu de mim na calçada do aeroporto e nunca mais tive notícias dele ou da igreja. Não vou colocar o meu nome em conferências ou congressos que só me querem para divulgação. Recuso-me a reforçar eventos que engradecem pessoas ou instituições, mas não criam vínculos de carinho ou de cuidado.

Já não aguento abraços coreografados. Manifestações artificiais de coleguismo, me enfadam. Tornou-se ridículo para mim testemunhar pessoas dizendo "somos uma só família em Cristo" e depois vê-las alfinetando os "irmãos" com comentários venenosos.
Amizades certinhas, alimentadas por pieguismo e textos re-encaminhados de power-point, já não dizem muita coisa. Quanta preguiça e descuido jazem nas entrelinhas dos cartões de aniversário com frases prontas. Verdadeiros amigos sabem que seus sentimentos são preciosos e como é valioso compartilhá-los. Amizades superficiais são mais danosas do que inimizades explícitas.
Quero ser amigo de quem não tem necessidade de parecer certinho. Não tolero conviver com quem nunca tropeça nos próprios cadarços ou que jamais admitiu ter sonhos eróticos. Ando cauteloso com quem se arvora de ter a língua sob controle absoluto.Vez por outra preciso relaxar, rir do passado, sonhar maluquices para o futuro e conversar trivialidades.

Necessito de amigos que se deliciam em ouvir a mesma música duas vezes para perceber as sutilezas da poesia. Como é bom encontrar um velho camarada e comentar aquele filme que a gente acabou de assistir. Adoro partilhar pedaços do último livro que li. Vale contar com amigos que numa mesma conversa, elogiam ou espinafram políticos, pastores, atores, árbitros de futebol. Não existe preço para riso ou lágrima que vem da poesia.
Quero terminar os dias e poder afirmar que, mesmo desacreditado das ideologias, dos sistemas econômicos e das instituições religiosas, jamais negligenciei a minha melhor fortuna: meus bons e velhos amigos. Contudo, ainda desejo encontrar mais amigos.

Soli Deo Gloria.
http://www.ricardogondim.com.br/

Deus fala

por Lucas Lujan

Deus sempre falou com a humanidade. Falou na história, pela história. E acredito que Ele ainda fala.

Eu o ouço. Não se espante, não fiquei louco. O que aconteceu é que passei a ouvir com mais atenção. Treinei meus ouvidos. Ajustei minha interpretação. Procurei o caminho da sensibilidade. Da humanização. Do amor.

O ouço na risada do bebê que brinca com a comida; na gritaria das crianças que correm no parque; às vezes sua voz tem tom feminino, de mãe aconselhando filho, outras, tom masculino, de pai fazendo piada pra ver a filha sorrir.

O escuto no lamento diante do acidente; no silêncio desesperado do marido que perde a esposa prematuramente; no grito agudo da mulher que é abusada; no choro de fome das crianças do sertão; no sussurro envergonhado de quem é excluído; nas palavras desamparadas de quem não tem onde dormir ou o que vestir; muitas vezes sua voz é rouca por causa de sua garganta sedenta.

Ouço Deus nas palavras das hospitaleiras que recebem pessoas em casa, servem comida à vontade e cedem a cama; ouço Deus pela voz do professor que luta para educar; nos lábios de quem reage contra a injustiça; nas palavras apressadas do médico para que a vida não se vá; sua voz é nítida e forte saída da boca do bombeiro que orienta buscas no morro soterrado.

Ouço sua angustia diante das absurdas injustiças sociais, de toda opressão econômica e política; ouço seu protesto na voz de quem se sente palhaço votando; sua voz é fraca nos lábios de quem foi humilhado, mas forte quando emitida por quem quer dignidade.

Já ouvi sua voz serena conceder paz e perdão ao errante; já escutei suas palavras misericordiosas ditas ao culpado; ouço-o nas palavras de quem não perde a esperança diante do caos; na confiança de quem acredita no amor; no trincar de dentes do menino soldado que não desisti da vida.

Sua voz é afinada no canto da faxineira que levanta de madrugada para sustentar os filhos; é empoeirada no pedreiro que não almoça para poder jantar; é molhada na boca da lavadeira que alimenta o pai doente; é amarga na boca de quem tem amor ausente.

Voz de justiça nos lábios do juiz íntegro, do advogado responsável; voz de igualdade social emitida pelo economista banqueiro dos pobres; voz profética na boca do padre que denuncia a indiferença, na boca o pastor que aponta a corrupção.

Ouço-o na beleza das palavras do poeta; na música do compositor apaixonado; nas mãos de instrumentistas habilidosos; nas páginas dos escritores vislumbrados com o mundo; na arte de quem reverencia a vida humana.

Sua voz nunca tem tom de poder, de soberania, de imposição. Ao contrário, o ouço na fraqueza do nazareno crucificado.

Deus se revela pela Palavra. Palavra encarnada, jogada na vida, mundana. Por isso é possível ouvi-lo.

A questão, então, não é se Deus fala; é quem está disposto a ouvi-lo.

http://jovensbetesdaon.com/deus-fala/